Final de Round 6 expõe um dos maiores problemas do streaming atualmente
O final de Round 6 revelou como longas esperas e narrativas partidas do streaming diluem o impacto, até mesmo nas séries mais populares.
Por Daniele Gonçalves
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O encerramento da terceira e última temporada de Round 6 (Squid Game) na Netflix chamou atenção não apenas pelo destino dos personagens, mas também por evidenciar um dos maiores problemas que as séries enfrentam atualmente: o modelo de produção e lançamento adotado pelo streaming.
Em quatro anos, Round 6 se transformou de fenômeno global em exemplo de como a divisão artificial de temporadas e a espera prolongada podem desgastar até as franquias mais populares.
O streaming mudou a definição de “temporada”
No passado, uma temporada de TV significava acompanhar uma história de forma contínua, ao longo de meses, com episódios semanais que sustentavam o interesse e construíam audiência. Esse formato ajudava o público a se envolver gradualmente, criando expectativa e fortalecendo a relação com a série.
A ascensão das plataformas de streaming substituiu esse modelo pelo chamado binge-watching. Séries passaram a ter temporadas mais curtas — geralmente entre 8 e 10 episódios — lançadas de uma só vez. Esse modelo treina o público a consumir tudo em poucos dias (ou horas) e depois esperar anos por novas temporadas.
No caso de Round 6, a primeira temporada chegou em 2021, mas a segunda só estreou no final de 2024. Durante esse intervalo, o criador Hwang Dong-hyuk foi direto ao afirmar à BBC que retornou principalmente pelo dinheiro:
“Dinheiro... Mesmo que a primeira temporada tenha sido um grande sucesso global, honestamente eu não ganhei muito.”
Essa declaração, combinada com o longo hiato e a falta de ideias prontas para a sequência, impactou negativamente a recepção das novas temporadas.
A narrativa quebrada esvaziou o impacto
Quando a segunda temporada terminou com um gancho no meio da história, muitos espectadores sentiram que a série havia sido esticada de forma artificial, algo que se tornou frequente no streaming. Essa divisão forçada criou uma expectativa enorme sobre a terceira temporada, que precisava entregar um desfecho impactante. Com isso, ela acabou soando apenas como a segunda metade de uma temporada maior.
A terceira temporada tem apenas seis episódios e não apresenta o mesmo ritmo envolvente que marcou a estreia da série. Os produtores cortaram a temporada em blocos para atender demandas comerciais e justificar longos períodos de produção. Como resultado, esses episódios se tornaram fragmentos desconexos, em vez de formar uma história completa.
Esse modelo cria uma situação curiosa: ao mesmo tempo que orçamentos crescem e a produção fica mais ambiciosa, a experiência de assistir parece cada vez mais apressada e, paradoxalmente, incompleta.
A pressão por temporadas maiores e esperas mais longas
O ciclo que se instalou é claro: cada nova temporada precisa ser maior que a anterior para compensar a longa espera, mas essa escalada constante acaba prejudicando a própria narrativa. Round 6 não é o único exemplo: diversas séries recentes lançadas em partes sofrem com a mesma limitação.
O conceito de “temporada” virou algo diferente do que era. Antes, uma temporada entregava uma história com início, meio e fim, enquanto preparava terreno para o futuro da série. Hoje, muitas vezes, significa contar apenas metade de uma história e pedir ao público que aguarde anos por sua conclusão.
O final de Round 6 provou que, mesmo com o imenso sucesso global, essa estratégia pode minar o entusiasmo do público. Além disso, ela dilui o impacto de momentos que, em outro contexto, teriam marcado a história da série com muito mais força.
Infelizmente, essa tendência não parece perto de acabar — e deve seguir moldando o futuro do streaming.