Criador de Ruptura explica por que os personagens dirigem carros antigos na série
Criador de Ruptura, explica o uso de carros antigos na série. Escolha reforça o controle corporativo e a ambiguidade do universo da série.
Por Daniele Gonçalves
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A série Ruptura (Severance), da Apple TV+, não apenas desafia as noções de identidade e trabalho, mas também instiga o público com detalhes visuais cuidadosamente pensados. Um dos elementos que mais despertam curiosidade é o uso de carros antigos por personagens que vivem em um mundo aparentemente moderno. Segundo o criador da série, Dan Erickson, essa escolha vai muito além do estilo, ela é parte fundamental da atmosfera de estranhamento que a série deseja provocar.
Por que os personagens de Ruptura usam carros antigos?
Durante uma entrevista ao BuzzFeed, Erickson revelou que os veículos antigos ajudam a criar uma sensação de desconexão temporal. Mesmo que os personagens usem smartphones, eles dirigem carros como o Volvo 960 de 1997, o Volkswagen Rabbit de 1982 ou o Chevrolet Nova de 1976. Erickson explicou:
“Sempre quisemos que o mundo de Ruptura parecesse um pouco fora do tempo e do espaço”
“Essa sensação começa no Andar de Ruptura, mas também se estende ao exterior. Os carros reforçam essa ambiguidade.”

Estética retrô com função narrativa
A decisão de manter a tecnologia do local de trabalho defasada é intencional. De acordo com o showrunner, os equipamentos antigos impedem qualquer conexão com o mundo exterior, reforçando o isolamento psicológico dos personagens. A ausência de sinal de celular ou internet no escritório ajuda a desvincular os trabalhadores da realidade, e os carros antigos fora dali prolongam essa sensação. Erickson afirmou:
“Queríamos que os personagens não soubessem ao certo em que ano vivem ou onde realmente estão”
“E, do ponto de vista do espectador, a ideia era manter esse mesmo desconforto.”
Além disso, ele sugeriu que certos modelos têm significados simbólicos. Por exemplo, o carro de Harmony, um Volkswagen Rabbit branco de 1982, pode fazer referência a Alice no País das Maravilhas, reforçando o tema da fuga da realidade.

Uma crítica sutil ao capitalismo moderno
Em entrevista anterior à Esquire, Erickson foi mais fundo ao comentar o propósito da série. Para ele, Ruptura (Severance) é uma crítica direta ao ambiente corporativo, onde a produtividade muitas vezes se sobrepõe à individualidade.
“É tentador se reduzir a uma única versão de si mesmo para ser aceito. Mas isso enfraquece nossa humanidade e nos torna mais vulneráveis ao controle de instituições poderosas.”
Essa tensão entre o desejo de pertencer e a perda de identidade perpassa cada aspecto da série, inclusive a ambientação.
Renovação e futuro da série
Com duas temporadas disponíveis no Apple TV+, Ruptura (Severance) já foi renovada para a terceira temporada, prometendo aprofundar ainda mais os dilemas existenciais dos personagens. Ao escolher deliberadamente cada detalhe, dos chips cerebrais aos modelos de carro, a série mostra que nada é por acaso no universo da Lumon.
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